Lembro dessa burrice bonita de que é feita a última esperança. Eu me lembro de insistir em não acreditar no que meus olhos gritavam para eu ver. Atrás de mim, uma despedida que não foi. E acima de minha cabeça, um céu tenebroso, cinzento de realidade. Lembro de um desespero e de querer voltar atrás na tentativa de não acreditar, para que não me faltasse o ar. Lembro de um turbilhão de pensamentos rápidos envoltos por um mundo parado. Como se eu não respirasse, embora eu respirasse. Como se meu coração tivesse parado de repente. Como se permanecesse não batendo por instantes, minutos, horas. Eu me lembro de um silêncio agudo que ainda insistia, e de não saber para onde olhar. Lembro de uma dor ao olhar determinada direção. Eu me lembro de não entender. E de ter a certeza de que ele não estava mais ali, e que, na verdade, nunca esteve. Eu me lembro. E talvez seja mesmo necessário lembrar, para então sentir a intensidade, para lembrar de todo mal que me foi feito. Essa lembrança me visita todos os dias, para doer de novo e assim acelerar forte o coração, inspirar e expirar forte. E então querer viver. Como quem se prepara para uma luta. Como adrenalina. Como uma fúria que, enfim, é força. Eu me lembro de uma lembrança que sempre volta urgente: àquela mania que tenho de imaginar o presente como se ele fosse um passado distante. Uma tentativa desesperada de cessar a dor. Eu me lembro do sofrimento ao descobrir que tudo havia chegado ao fim, e o meu amor por ele, não. Eu ainda me lembro, e acho que nunca vou esquecer.
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