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# Trecho de Quinta



"Este é o período mais duro, Starling. Aproveite-o bem, e ele irá endurecê-la. Agora vem o teste mais difícil: não deixar que a raiva e a frustração a impeçam de pensar. Isso é o essencial para saber se você pode comandar ou não. O desperdício e a estupidez são o que mais podem afetar você."


Hannibal Lecter em O Silêncio dos Inocentes.

# Tira de Segunda

Na terça... 



Via Will _

# Trecho de Quinta

"Foi há muito tempo, mas descobri que não é verdade o que dizem a respeito do passado, essa história de que podemos enterrá-lo. Porque, de um jeito ou de outro, ele sempre consegue escapar." 

(O Caçador de Pipas  - Khaled Hosseini)

Menos é Mais

Outro dia preparei um certo prato pro jantar e Mr.P devorou e pediu para que repetíssemos o mesmo prato durante a semana, no entanto acabei esquecendo. Mas depois de alguns dias Mr.P lembrou e perguntou se ainda estava nos meus planos refazer o tal prato. Fiz então o jantar tão esperado e requisitado por Mr.P, que comeu com satisfação e deleite.

O prato em questão? Arroz temperadinho, ovo frito e salada de tomates.

Easy peasy.

# pequenos momentos de felicidade

São dias desleais, dias em que nenhum cômodo da casa aguenta mais nenhuma lágrima. Ela tenta ser forte, mas percebe que a cada momento o mundo parece desabar sobre sua cabeça. O que fazer quando tudo parece tão sombrio e vazio? 

 Algumas, das muitas, tentativas de soltar uma gargalhada que venha de dentro, se dá quando ele está por perto. E como uma espécie de farol que guia os navegantes, ele a guia para um terreno macio e confortável, onde as rizadas são verdadeiras e os abraços são envoltos por um amor que ela achava estar extinto. E aí vem a paz. 

O relógio marca 3:37hs, numa madrugada que parecia não ter fim. Já era aniversário dele, e ela não havia comprado presente, não por esquecimento, mas por falta de dinheiro. Como não presentear alguém que é tão importante em sua vida? Vou fazer um bolo, logo pensou. Isso! Um bolo! Ano passado ela tinha comprado um, mas esse ano seria diferente: seria o melhor bolo para a melhor pessoa! 

Levantou da cama às 7:30hs e foi direto organizar os ingredientes necessários. Feito isso, começou a leveza do preparo: bate, liquidifica, separa, mexe, forno... Cozinhar, de fato, é uma terapia. Ao som de Beatles, e misturando os ingredientes do recheio, ela estava feliz. 
Assou dois bolos, preparou um recheio de coco e uma cobertura de chantilly. Enquanto tudo esfriava, ela resolveu ligar pra ele desejando bom dia como de costume, e no horário de costume. 

A tarde foi dedicada a montagem. Descobriu, na marra, que não é tão fácil confeitar um bolo. Mas ela estava numa paciência tão soberana, que nem o perfeccionismo dela atrapalharia.

Hora de se arrumar, as pressas, pois ele já estava quase chegando. E ele não vem sozinho, vem trazendo todo amor e alegria como companhia, os presentes que, sem eu pedir, ele me deu: uma família, que agora é minha também. 

O jantar estava perfeito, o local agradável, gargalhadas e mais gargalhadas, e, no fundo, um som familiar... Eu conheço essa música! Há! Meu querido Nando... Nando Reis para melhorar o que já estava bom. De sobremesa, o bolo! Apelidado carinhosamente de "caixa d'água" pelo cunhado, mas aprovado por todos. Realmente ficou delicioso. E ela observou o rosto de cada um, como quem quer gravar na memória um momento que jamais poderá ser esquecido. 

A despedida... A troca de olhar, o abraço apertado, o beijo de amor, a saudade precoce e um Feliz Aniversário tão verdadeiro que jamais caberia em simples palavras. 

Ela nunca pensou que preparar um bolo fosse ensiná-la que sempre existem luzes prontas à clarear nossa estrada em épocas de escuridão. Agora enxerga, claramente, que é sortuda por ter alguém tão especial e único.

Ela não pôde comprar nenhum presente, então resolveu fazer o que sabe fazer de melhor: cozinhar e escrever... 





A Filha da Minha Mãe e Eu.

Tirei o título dessa postagem de um livro que li tempos atrás... Ser mãe é quase uma predestinação minha, sempre um sonho. Olhando pra trás vejo que ter comprado esse livro foi um dos meus primeiros passos rumo a maternidade, e não, não estou grávida, e nem pretendo ficar a curto prazo, mas esse é um assunto bastante delicado pra mim. Eu amo ler,comprar livros pra mim não é novidade, mas quando me deparei com a sinopse desse livro, algo dentro de mim se identificou totalmente...

(...)Quando vi as duas listras azuis no teste de gravidez, tive uma certeza: preciso me sentir filha antes de me tornar mãe. Porque uma parte da minha alegria era inventada e, a outra, não era minha.(...)

E é exatamente assim comigo. 
Assim como no livro, existem duas Kerlynhas: a filha da minha mãe e eu. E sim, eu sou as duas!
Minha relação com minha mãe é tão complexa que eu não sei se conseguirei me fazer entender... é de um amor imenso, de culpa, de dor, de lágrimas e de sorrisos... é da presença constante de uma falta, é de cuidado e de compaixão.
Minha mãe foi absurdamente carinhosa comigo, e absurdamente ausente também... foi meiga e relapsa, foi incentivadora e distante... como explicar? Não sei, mas hoje sinto a necessidade de seguir em frente e passar a vê-la com outros olhos... com quais? Não sei. Existem muitas dúvidas, existe uma dor que, no fundo, tenho medo de nunca passar, mas eu sei que preciso, pelo menos, cuidar das feridas na tentativa dessa dor diminuir. 
Eu demorei - e ainda estou nesse processo - a me ver como "eu mesma" e não como a filha da minha mãe. Deve estar confuso para vocês entenderem, isso tem gerado anos de análise... mas o fato é que minha ligação com minha mãe é assim mesmo, simplesmente confusa!
Vou tentar ser didática, explicar algumas coisas... Minha infância foi relativamente comum, uma casa confortável, dois irmãos mais velhos sempre dispostos a brincar e brigar comigo, mãe com um emprego estável, pai que não sabia demonstrar seu amor pelos filhos e que tinha problemas com o álcool, mas que sempre conseguiu se fazer respeitado e amado por mim e meus irmãos. 
O pilar maior e mais forte da família era a minha mãe, mas eis que, aos 14 anos de idade, essa responsabilidade passou a ser minha. O motivo? Ela morreu. 
Embora eu fosse uma garota extremamente precoce em tudo, sustentar um lar não estava nos meus planos. Sair com meus amigos, ouvir música, dançar e namorar estavam nos meus planos. Tudo ficou mais difícil. Eu era a única figura feminina na casa e, automaticamente, meu pai e irmãos projetaram em mim uma força que eu não tinha, mas que precisei inventar. Eu não sabia o que fazer, mas fingia saber, e isso foi dando certo. Nunca chorei minhas dores na frente deles, eu era de aço! Mas o que eles não sabiam, é que aço só se tempera na porrada, e no escuro do meu quarto, trancada, eu chorava como uma adolescente, uma simples adolescente. 
Minha mãe sempre me dizia que eu conseguiria tudo a que me propusesse, minha mãe me dizia que me amava e me beijava. Minha mãe sentava na minha cama de pernas cruzadas e perguntava, empolgadíssima, como tinha sido o meu encontro com aquele garoto que eu gostava. Minha mãe queria fazer o meu aniversário de 15 anos, e queria me ver dançar no baile de formatura com meu pai. Minha mãe partiu e eu não tive festa de 15 anos, ela também não estará na minha formatura, e nem sabe mais sobre meus amores e desamores. 
Entre um estar, e não estar mais, eu amadureci, e nunca dei trabalho. Passei para uma universidade federal aos 16 anos, sempre trabalhei, estudei, nunca usei drogas, namorei sempre caras legais... a filha perfeita por fora, mas vazia por dentro. 
Durante muitos anos eu me concentrei nesse vazio, nessa falta, na negligência da minha mãe por não ter se tratado a tempo, nas consequências - terríveis - disso tudo. Coisas que até hoje eu carrego. E toda minha vida foi baseada nessa sensação de desamparo, de não ter alguém para cuidar de mim como se deve, de imaginar como tudo seria diferente se ela estivesse viva... e ao mesmo tempo olhar tudo o que tenho com carinho, com amor... difícil mesmo de explicar, eu sei. 
Alguns anos de vida, de terapia e de experiências, hoje me vejo querendo ser mais eu do que a filha da minha mãe. E o que isso muda ? Muda tudo, mas não sei como. 
Sei que minha mãe me ama, me ama do jeito dela e me ama como sou, sei de uma energia e proteção que me cerca, e, por hora, isso basta. Minha mãe é minha maior inspiração e meu maior medo... com base nela eu sei o que quero ser e o que não... estranhamente simples assim.