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Sem saída

É assim todo dia. Toda vez que ouço a sirene de uma ambulância, lembro de ouvir uma sirene que eu sabia ser em vão. De uma última esperança que não pensa, não raciocina, só faz correr para salvar. Lembro dessa burrice bonita que é feita a última esperança. Lembro de um buraco na porta, de uma porta que era só uma das coisas que, naquele momento, me separavam dela. Eu me lembro de lembrar do medo, e então tudo perder o sentido. De uma vontade de estar errada, mesmo cercada por muita verdade. Diante de mim, o silêncio e a não explicação. Atrás de mim, uma despedida que não foi. Acima de minha cabeça, um céu cinzento de realidade. Eu me lembro da dor de pensar que nunca mais haveria resposta. Eu me lembro de imaginar a suavidade violenta que deve ter sido aquele segundo entre o estar e o não estar mais. Eu me lembro da esperança de ainda conferir, como se a qualquer momento a vida pudesse mudar de ideia, como se alguém estivesse prestes a desfazer aquela brincadeira de mau gosto. Eu me lembro de não entender. Entre ela e eu, a vida. A morte. O amor. A saudade.

3 comentários

  1. Agora você me pegou de jeito. Fico sem saber o que falar diante desse tipo de "perda". Sei que palavras não preenchem o "vazio", mas podem dar conforto, e o que eu posso te dizer agora é que eu lembro muito bem dela, claramente, e ela era um amor de pessoa; mantinha no rosto (mesmo séria) e na suavidade dos passos um ar angelical. Portanto, com certeza ela está bem, e está do teu lado o tempo todo.

    Beijo bem lindo, princesa.

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