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Do alto da minha ignorância

Tenho sentido ela distante, indo embora de mim. Resisto a tentação de pedir que ela fique. Não devo, não devo. É hora de ir e deixar em mim o que precisa ficar. Como eu previa, as lembranças já não são frescas, mas, mesmo distante da intensidade, sei muito à respeito dela. Nesse tempo todo de falta, procurei o costume como saída, fiz da ausência um hábito, até que ela virasse paisagem. Só que, de vez em quando, entra um vento de dor por uma fresta insuspeita, atingindo minha pele com um frio de tristeza. Talvez eu sinta para sempre esses arrepios, como quem tem uma doença crônica, um reumatismo de amor que, vez por outra, finca e maltrata. Depois passa. E volta - não há como virar uma página que insiste em se reescrever. E hoje, em meio a dores e cores, lágrimas e sorrisos, percebo algo de bom... Não foi nenhum livro que eu li, não foi nenhum filme que eu vi, foi o que me foi dado a viver e o caminho, o único, o que encontrei para respirar. Foi a minha ignorância. Minha não pretensão, o meu não julgamento e uma lente de amor a distorcer (ou revelar?) a poesia. Antes de ser dúvida, já era texto, já era lido, já era. Arte por ser expressão legítima do que o coração gritava. E assim, inteira, absolvida pela ignorância, cometi a simplicidade de dizer o que sentia. Fiz, sem saber que a sinceridade era um atrevimento. E acho que vai ser sempre assim. Hoje, escrevo.

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